23.OUT
Os últimos três meses foram intensos na bolsa de valores, graças aos altos e baixos resultantes dos momentos de otimismo e pessimismo com o cenário eleitoral do país. O que muitos parecem ter esquecido é que, ao longo destes meses, as empresas cujas ações estão listadas continuaram funcionando – e está chegando a hora de divulgarem seus resultados financeiros aos investidores.
A partir desta terça-feira (23), as empresas brasileiras listadas na bolsa iniciam oficialmente a divulgação de seus resultados.
O InfoMoney conversou com analistas e especialistas para selecionar os insights mais importantes a que os investidores devem ficar atentos antes mesmo da liberação dos números oficiais. Confira os 20 pontos mais importantes, positivos e negativos:
Aéreas devem ter margens pressionadas pela depreciação do real e combustível a preços elevados. Azul deve sofrer menos na comparação por oferecer uma malha mais exclusiva de destinos – e portanto ter menor necessidade de brigar no preço das passagens. No curto prazo, ações da Gol têm respondido muito bem à reorganização societária envolvendo a Smiles, cujo grande (e talvez único) ganhador foi a própria Gol.
Passado um 2º tri afetado pela pela greve dos caminhoneiros, os números do 3º tri virão melhores para o setor de varejo, mas ainda piores do que se comparado com o mesmo período de 2017. No entanto, Renner conseguiu passar imune por essas adversidades, disse ao InfoMoney um analista de investimentos que teve contato com representantes da empresa.
No badalado setor de e-commerce, a Via Varejo deve ser a pior do trio (que conta também com B2W e Magazine Luiza), reflexo da dificuldade de implementação de um novo sistema de vendas mais tecnológico, o que fará as vendas crescerem bem menos que seus concorrentes e as margens comprimirem drasticamente. As units da empresa já refletem isso na bolsa, tendo caído quase 20% desde a metade de setembro.
Ecommerce 2: B2W em franco crescimento
Por outro lado, a B2W deve mostrar um prejuízo menor neste trimestre graças ao término dos impactos da greve dos caminhoneiros. Espera-se forte crescimento das vendas online (27%) e principalmente do marketplace (79%). Assim como Via Varejo, as ações da B2W já refletem essa melhora: alta de 50% desde 17 de setembro e fechamento no maior patamar em bolsa desde setembro de 2014.
A atual varejista mais valiosa do Brasil continua apresentando resultados sólidos. O crescimento nas vendas online deve vir em 55% na comparação ano a ano, muito a frente de seus concorrentes. Ação subiu tanto quanto B2W desde 17 de setembro, mas no longo prazo a alta de Magalu é impressionantemente maior.
Santander deve ser o melhor dentre os bancos, que no geral apresentarão números robustos. O motivo é basicamente uma “inércia” em um crescimento que já vem forte há tempos.
Um destaque maior entre bancos é o Bradesco, cujo lucro líquido esperado é de R$ 5,7 bilhões, o que representa um crescimento de 9,7% frente ao segundo trimestre. A carteira de pessoas físicas da instituição deve crescer 7,6% no período.
"O Brasil me obriga beber" aparentemente não foi o mote deste período eleitoral. O volume de vendas de cerveja deve apresentar queda no país inteiro, com retorno apenas em setembro – o que não salva o trimestre. Para a Ambev, espera-se margem Ebitda consolidada em 40,8%, praticamente “flat” ante os 40,1% apresentados no mesmo período de 2017.
Tanto Suzano como Klabin, exportadoras, se beneficiam de custos mais baixos e resultados melhores, graças à depreciação do real ante o dólar. Espera-se Ebitda de R$ 2 bilhões para Suzano e R$ 1,2 bilhão para Klabin. Com o dólar caindo de R$ 4,10 para R$ 3,70 nas últimas semanas no "rali Bolsonaro", os números do 4º trimestre devem vir mais magros.
Os resultados da estatal refletem preços 2% mais altos para o petróleo, depreciação de mais 10% do real e maiores margens de refino com reajustes de gasolina e diesel ao longo do trimestre. Na bolsa, no entanto, o rali eleitoral é quem tem guiado o otimismo dos investidores.
O que é ruim pode ser pior: margens menores na rede Ipiranga devem pressionar os resultados da Ultrapar neste trimestre. E a ação já vem “apanhando” por conta disso, mesmo já tendo caído 45% em 2018. Vale lembrar que esse movimento é parcialmente balanceado pelo diesel mais forte.
As gigantes de alimentos devem vir com resultados bons, mas ainda impactados por problemas do passado. Na bolsa, momentos distintos: JBS subiu 15% nas últimas semanas e zerou as perdas de 2018, enquanto BRF já perdeu 43,7% de valor de mercado no ano.
A guerra das maquininhas transformou a Cielo em uma enorme produtora de despesas. Os resultados devem vir fracos por este motivo. Por outro lado, como a ação CIEL3 não parou de cair ao longo do ano (queda de 41,7% em 2018), a reação dos investidores pode ser mais contida.
Locadoras de veículos em geral utilizaram os últimos meses para investir em frotas, o que deve pressionar as margens. Ainda assim, o crescimento dos negócios está saudável. Um adendo para Localiza e Locamerica: enquanto a primeira acostumou mal o mercado com números excelentes (e pode por isso decepcionar no 3º tri), a segunda pode continuar trazendo bons frutos da fusão com a Unidas anunciada final do ano passado.
Em geral, a comparação com o trimestre anterior, altamente impactado pela greve dos caminhoneiros e pela Copa do Mundo, será positiva. Mas o crescimento ainda é vagaroso. As vendas nas mesmas lojas devem crescer pouco ano a ano, entre 2% e 3% na média. As taxas de vacância devem demorar um pouco ainda para diminuir. Na bolsa, o fechamento da curva longa de juros (proxy para o desempenho das ações) tem trazido um sentimento positivo de curto prazo.
As entregas de aeronaves no trimestre foram mais fracas que o esperado pelo mercado (39 ante estimativas acima de 45). A alavancagem operacional deve ser fraca nas frentes comercial e executiva; já a frente de defesa pode ser impactada pelo real fraco. Mas isso pouco deve mexer com as ações, já que as atenções estão todas para os próximos capítulos do acordo com o Boeing.
Setor ainda está passando por um novo momento com o fim do Fies. Alguns investidores estão otimistas com Estácio pela combinação de melhora no EAD (Ensino à Distância), foco em redução de custos e performance negativa em bolsa (ação caiu 12% em outubro e 33% em 2018).
No trimestre anterior, a maior empresa de saúde suplementar do Nordeste apresentou margens apertadas e falou em aumento da sinistralidade por conta de uma temporada mais longa de viroses. Há ainda uma certa desconfiança a este respeito porque outras empresas que atuam na região não apresentaram estes efeitos no balanço, diz um gestor que acompanha o papel.
Fonte: Infomoney